Turnê

Turnê
Por Old Russian

Não tinha dinheiro
Para levá-la ao show
Do mais novo astro mirim.

Se pedisse a mim,
Não dava!

Afinal, não gasto com bobagem...

E a levaria ao zoológico,
Junto com o pai,
De poucos recursos,

Para ver os macacos,
Coisa muito mais interessante,
Que essa obssessão estimulada!

Mas, diante do dilema, o homem,
À vista do eminente choro,
A levou ao menos à porta,
Para tentar ver o astro,

Antes da escola,
Naquele Engenhão de gente.

A cidade parada,
Pelo próprio governo:
Vai passar o melhor dos meninos!
(Porque enche os nossos bolsos!)...

Ela saltitava -
Eu vi de relance,
Pois tentava correr ao trabalho.

E o pai ria,
Como criança,
De mãos dadas,
Protetoras,
E também correndo,
Encabulado.

Quanta histeria!
Quanto perigo!
Essas meninas na rua...

Eu pensava, engarrafado.

Talvez ele inventara,
Ter visto o astro,
Na excursão que passava.

_ Sim, sim papai!
Eu também vi, obrigado!

_ Então, vamos para a escola...
Olha a fila:
Você queria ter enfrentado?
Estuda, estuda...
Um dia você mesma paga a entrada!

_ Tá bom, papai!

Disse a menina,
Compreensiva.

E eu tenho certeza:
Será uma bossa nova,
Será um concerto,

Um samba canção,
Um mangue beat,

Ou mesmo um inclassificável
Novo ritmo brasileiro!

(Que as rádios chamarão rock)

Quem sabe o reggae da Jamaica,
A salsa de Cuba,
Um jazz americano,

Um tango?!

Mas, será pela livre concorrência
Do bom gosto cultivado
E não pela ditadura do marketing...

Atravessaram a rua e o sinal abriu.
Lá vamos nós todos:
Para a realidade!

_ Não esqueça a merenda
Que a mamãe fez
Com todo cuidado...

A mochilinha tão pequena,
Com o falso rosto,
Do falso astro,
Comprado no camelô.

O sorriso da menina,
Cintilante e farto,
Em outra porta,
Bem mais condizente com ela.

O sorriso do pai,
Emocionado,

Talvez contido, apenas,
Pela meia verdade
Sobre o falso astro,

Vendo a filha,
Por mais um encantado momento,
Indo a cada dia,
Para o desafio diário,
Que também lhe cabe
E suspende o ato mágico
Do acenar de mãos de cada lado. 

Eu fui logo embora!
Porque nada tenho a ver
Com aquele fútil projeto
Estampado no fosforescente cartaz...

Mas, ela, de fato,
Viu o astro que queria!

E não foi no ônibus longínquo,
Que logo, logo,
Por outro será trocado...

Mas, em seu reflexo.

Pois, estava bem no colo
Do compositor e músico,
Do mímico roteirista,
Verdadeiro artista,
De transformar a dor do mundo
Em muito amor!

Esse sim, toda a verdade,
E merecedor de todo aplauso!



Post Scriptum:

Ao falso astro mirim,
Meu muito obrigado,
Por ter me proporcionado
Mais essa oportunidade
De beleza e lucidez.

6 comentários:

disse...

Macaco Russo esteve nas estepes e encontrou a iluminação com os iogues fugidos do gelado Himalaia. Boa iluminação, meu caro!

Hippies de Ray Ban disse...

The Russian Ape was also inside the Earth in the Sovietic Sputnik for Spirit Technology. There, he drunk straight from the source and become alchemist.

Deveraneios disse...

Uau, Bruno!
Li imaginando meu marido falar tais palavras para minha filha...
Não conhecia esse seu lado..

Bruno Moreira Lima disse...

Sejam muito bem vindos, meus amigos! Obrigado pela visita!

Paula disse...

Adorei, Brunão!!! Muito legal mesmo! Parabéns pela iniciativa! Bjs e sds ;-))

Marco Antonio Martire disse...

Bruno, acreditei em você. Vão bem essas palavras, direto no coração, que é quem delas entende. Um abraço.
@MarcoAMartire
http://www.obloguidomarco.blogspot.com/