Agulha, carne, algodão

Agulha, carne, algodão
por Bitter Russo

Acreditei no contrato social
E na lealdade.

Acreditei no amor
E na amizade.

Acreditei que existia afeto
E busquei a verdade;
Acreditei em ideologias
E na bondade.

Já acreditei na igualdade,
No meu país...

E tanto no bem da comunidade,
Quanto na liberdade de escolha.

Acreditei na beleza,
Na natureza
E na religião.

Nem sei se acreditei em Deus,
Mas até hoje tenho muito medo.

Acreditei no perdão,
Na palavra,
Na boa intenção.

Pasmém! Já acreditei em propaganda!

Acreditei nos bens,
Que me trariam conforto,
Sabor, cheiro
E satisfação.

Acreditei em brinquedos, jogos e diversão.

Talvez, nunca acreditei em dinheiro,
Do que realmente não entendo,
Embora por ele tenha sofrido tanto.

Já acreditei até mesmo na imprensa;
Acreditei no esporte
E em gargalhadas.

Acreditei nos meus pais,
Nos meus amigos,
Nos meus irmãos.

Já acreditei que xingar a mãe é motivo de briga
E que falar mal da família alheia é desrespeito.

Acreditei em mais de uma mulher.
Acreditei na paixão...

E por muitas décadas fui cavalheiro,
Simplesmente por acreditar na necessidade desse gesto.

Acreditei em tantas coisas,
Como na ilusão dos filmes.
Acreditei que era forte
E que tinha crenças firmes!
Acreditei, mesmo,
Que duvidando de tudo,
Chegaria a alguma conclusão,

Que toda crença é hoje decepção!

Um comentário:

Marco Antonio Martire disse...

Curti mais esse, indo longe com os afetos!
Abraço