sábado, 30 de janeiro de 2016

Castelo de cartas

Castelo de cartas
(Ou a história do bebê de 500 anos)
Por Macaco Patriota

Os ladrões das casas
De Borgonha e Habsburgo,
Bragança-Saxe-
Coburgo e Gota,

Onde quem mandava
Não eram os Afonsos,
Joãos, Manuéis,
Pedros ou Filipes,

Mas de Henrys a James,
De Edwards a Victorias,
Através de arrogantes
Duques de Wellington,

Tiveram sua área
Maior de rapina
Adiantada na herança

Pelos filhos ingratos
Das treze colônias:

De Lincolns a Roosevelts;
De Nixons a Reagans.

E todos eles tinham,
Aqui nesta terra,

Seus associados
De extorsão e pátria,

Bilaterais, como a Louca
E os seus dois Pedrinhos,

Um Deodoro,
Com seus tantos padrinhos,

Mineiros, Paulistas
E um revoltoso Vargas,

Castelos Brancos,
Gouberys e Campos,
Figueiredos, Sarneys, 
Collors e Cardosos,

E um montão de outros

Dos tipos Cunhas, Caiados e Neves.

Pois, eis que,
Das greves,

Surgiria um homem do povo,
De nove dedos,

Suposto salvador
Dos trabalhadores urbanos,

Camponeses sem terra,
Índios e escravos,

Mas, que tinha seus segredos
Ao levantar campanhas,
Apesar do carisma evidente,

Provado com ações e palavras
De um alegado Robin Hood.

Sabia acalmar os ânimos
Dos gatunos da alta classe
(Se é que, nesse embalo,
Não se tornou um deles...)

Ao mesmo tempo, zeloso,
Em que não descuidava
Dos que nunca tiveram vez
Em suas miseráveis esperanças;

Tornando, com isso,
Fiés aliados
Os aguerridos pensantes
Da classe média.

Encontrou a poupança
De um plano de contingência
Para a continuidade e a ampliação
Da remuneração dos ricos,
Dessa vez, de portas arreganhadas,

Com a entrega das empresas estatais
A preço de banana,
Inflacionadas na surdina,
E a inviabilização dos serviços públicos
Por cortes de verba escrachantes,

Plano esse que visava, ainda,
Amenizar a dívida generalizada -

A qual foi criada
Para se tornar impagável -,
Sustentando-se a estabilidade econômica
Com o capital especulativo

Ansioso pelos juros ilusórios
Dos papéis públicos.

Velha tática de "chutar a escada"
Dos economistas "neo" liberais.

Ao preço da servidão,
Acertada no "Consenso" de Washington,
A moeda, então, se estabilizara,
Perante o sagrado dólar.

E, com esses falsos metais,
O metalúrgico
Resolveu espalhar a bonança
Também para as pessoas do povo,
Bem como a seus "companheiros",

Esquecendo-se pouco a pouco
Dos ladrões históricos
Que o aceitaram,

Ao aproximar-se, cada vez mais,
Do oriente vermelho

E de seus hermanos
Do continente,

Execrados,
Por seu perigo sistêmico,
Pelas elites dominantes.

Os corruptos clássicos,
Assim, se indignaram,

Passando a golpear o barbudo,
Por meio da mídia comerciante,
Com uma série de escândalos
Que ele ignorara,

Já que escândalos
Iguais a esses,
Nunca antes neste país,
Deram em nada.

Por que, agora,
Seria diferente?

Porque ele
Vinha de baixo
E da dor da miséria
Não esquecera?

Tratou de ajustar
O seu gabinete,
Pondo ali
A guerrilheira dura,

Que, ainda mais longe levando,
A política "dadivosa" do chefe,
Em breve se tornaria
A sua cabal sucessora.

Os colarinhos brancos de outrora
Já não toleravam
A petulância sem limites
Dos rapaces de agora.

Que história era aquela
De roubar para os pobres?!!!

Tinham que sabotá-los
Para reaver o lugar atávico,
Indo buscar, em Curitiba,
Um super-herói altaneiro,
Que faria, por eles, vingança,
Mesmo que nessa sanha levasse
Alguns pares seus no caminho,
Porque um Batman de Brasília
Não foi o bastante.

Não quer dizer
Que a presidenta
Não cedesse...

O que a Dilma tem a temer
Do temeroso vice-presidente,
No pacto sinistro
Em que sua legenda
Se lançara?

Mas, não era suficiente
Para os insaciáveis vetustos,

Que abiscoitavam,
Em seus Estados,
Inclusive do preço
Do transporte público,
Na forma de patrocínio,

Fazendo isso
Com tal virulência,
Que seria o estopim
Para uma revolta popular
Sem precedentes -

Uma revolta múltipla e confusa,
Também colocada na conta
Exclusiva da guerrilheira.

Em resposta coerente
Com a sua inflexibilidade,
Ela passou a fechar-se
Em uma defesa tirânica,

Arrochando
Indiscriminadamente
O revide,

Até mesmo
Contra os jovens revolucionários,

Que foram às ruas
Combater a injustiça,

Como ela fez um dia

E, por isso, deveria
Ter se juntado a eles.

Aproveitando o ensejo,
Os velhos crápulas,

Indisfarçáveis em seus novos vendilhões,
Financiados por mandantes estrangeiros,

Previam o caos;

Pediam impeachment,
Intervenções militares
E ditadura!

Rogavam à inflação,
No furor da crise,
Que voltasse com fúria.

Saudavam crimes ambientais,
Tramavam falências,
Suplicavam prisões,

Em franca torcida
Por goleada e penúria
Contra o Brasil...

Um espetáculo bizarro
De autofagia
Aplaudido de pé
Pela polícia e o governo
De São Paulo.

Tanto pediram,
Esses débeis mentais,
Com tanta fé e franqueza,

Que de tudo levaram,
Mui agradecidos,
Do que os biltres de alhures
Lhes podiam dar:

Crise,
Inflação,

Soberba,
Cinismo,

Descrédito,
Penúria,

Hipocrisia
E troça...

Que em nada afetavam
Suas economias pessoais,
Senão o cotidiano
Dos pobres brasileiros.

E assim uma nação acabou,
Sem nem mesmo ter começado.

Jogaram fora a água suja do banho
Com um bebê gigantesco no meio,

Inignorável.

E não o da índole corrupta,
Dita neófita

Pelo duvidoso
Ex-presidente;

Mas, o que poderia
Redimir esta pátria

Com o seu justo alicerce,
Purgado no lodo
Desse secular pesadelo.



quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Ponto de fuga

Ponto de fuga
Por Macaco Velho

Os sonhos, as ideias,
As certezas

Se liquefazem,

Assim como os músculos.

E todos doem,
Aos tantos anos,

Qual o cérebro,
Que arde,

Para se manter são.

Nem o abraço
Rebate
A ausência de sentido.

Mas, conforta

E acalma,

Enquanto o remédio
Traz o sono

Da noite,
Que antecede

Mais um dia, no qual
A impotência (!) -

Do sexo,
Da criação,

Do mar e da cidade,

Do trabalho -

Cobrará o seu preço,

Com angústia

E frustração.



sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Números

Números
Por Macaco Insignificante

Meu número é 00715160.

Da minha mãe, tive o alimento primeiro,
Um senso agudo de Justiça,
O pitoresco aspecto eslavo
E um pendor para as artes.

Do meu pai, tive o estímulo
A lutar, nadando, pela vida,
Pois quando eu me aproximava,
Com desconcertadas braçadas,
Ele ia se afastando.

Tive avôs tão fascinantes
Quanto as avós que ainda tenho.
Com um pesquei meu primeiro bagre;
Com outro aprendi desenho.

Vovó materna me ensinou a ler;
Vovó paterna a gostar de perfume.
Uma me dava misto quente;
A outra mingau de farinha láctea.

Com meu irmão mais velho aprendi piadas.

Meu irmão do meio ensinou-me a ciência
De montar e desmontar máquinas.

E, dos dois, por rotina, eu levava
Umas boas dumas porradas.

No futebol eu já dei umas pernadas,
Mas nesse me faltou o talento,

A paciência de correr tanto tempo
Pelo inútil e feliz acaso
Do tão desejado tento.

Enveredei pela bebida e o fumo,
Seguindo o exemplo dos varões da família.

Mas, no sexo, me versei sozinho,
Em alguma casa de facilidades,
Na qual eu entrei de fininho.

Tive algumas namoradas
E, com elas, dias turbulentos.

Até que sosseguei com a morena,

Que, acima de tudo,
É uma grande amiga.

E nós temos dois cachorros,
Que adotamos em um abrigo,
Os quais, hoje, nos regem os passos
Porque os tratamos como filhos.

Mas, pouco importam esses fatos,
Ou as minhas idiossincrasias...

Meu número é 00715160.

É certo que um dia vou bater as botas,
Nessa ultra-modernidade idolatrada,
Em que nenhuma desprezível formiga
É, por outra, insubstituível.



Patê de lata

Patê de lata
By Sick Monkey

Eu pondero comigo mesmo
Sobre a hostilidade das horas,
Dos pensamentos
E das pessoas.

Imagino a límpida alma da infância,
Incólume, feliz e livre
E, por ela, a lealdade
De quem a amasse.

Na volta à realidade,
A crueza dos fatos choca,
Com a avalanche de uma lama tóxica -

Essa lama que macula minha alma,
Por ter faltado no cuidado com ela.

O verde da mata
Ainda me agrada;
Como a água cristalina
Da enseada

Marcada para a morte
Nas mãos desalmadas
Dos homens de sorte
Em seus negócios.

Eu prefiro o ócio!

Da mirada no vento,
Atiçando as copas
E balançando as vagas
Que devem chegar logo

Aqui, para o divertimento
Gelado, veloz e adrenalizante
Da criança que persiste
Ante o homem rabugento.

Até quando e por quanto,
Contudo,
Haverá essa alegria?

Se nem mais as frutas
Têm um sabor seguro,

Porque recobertas
Do veneno aspergido
Pelos homens de negócios,

Que, no seu lucro,
Não querem sócio?

Desejam escravos,

Os quais se batem
Por uma chance
De segurar, um dia,
Acima da cabeça e do peito,
O chicote.

Eu pondero comigo mesmo:
De que adianta a alvorada
Para isso?

De que adianta o alimento?

E de onde virá o sorriso
Numa vida de gente barata?