quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Imóvel

Imóvel
Por Macaco Paralisado

Aqui onde eu não queria estar
Estão minha mulher e filho.
Porque ela quer ficar,
Não há outro caminho.

Eu fico.
Pobre arrimo, metido a rico:
Pobre de alegria e mente,
Demente,
Convicto, evito 
A ânsia dessa gente:

Os que querem em demasia 
A prisão sedutora das notas.
Deprimentes,
Me agridem com ingresia;
Por migalhas,
Revelam-se hipócritas.

Mas, ela teima, irritada, em estar perto.
Eu preferia repousar próximo às plantas,
Deveras longe desse fórum abjeto,
De fumaça, de tristeza e de pilantras.

Entre tudo, o que ambiciono é o mar,
De água limpa e de ondas primorosas, 
No qual eu possa a existência avigorar,
Com o prazer de traçar curvas virtuosas!

Se nada disso é possível no momento,
Se nada posso com meu pleito transformar,
Imóvel, firo, com palavras, o tormento,
Imóvel, espero o capricho variar.   

sábado, 30 de abril de 2016

De 2016 para a História - Um haikai sobre o golpe

De 2016 para a História:
Um haikai sobre o golpe
Por Maquiavel Macaco

Quem não ganhou pelo voto,
Quer a míngua do povo.
Não há dúvida: É GOLPE!


segunda-feira, 25 de abril de 2016

Haikai da taxonomia

Haikai da taxonomia
Por Macaco Autofágico

Fui classificar as coisas.
Dei-me com um pleito dramático...
Maldita criatura esse ornitorrinco!



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Desdém e leviandade

Desdém e leviandade
Por Macaco Aprendiz

Por favor, seja normal
E não se aborreça
Com o que vou dizer:

Não tenho tempo para suas lamúrias.
Do seu "mimimi", eu não quero saber...
Pouco me importam os seu sentimentos;
Desde o início, não estou nem aí...

O seu esforço
Não me diz nada.
A sua conduta
Deve ser no meu toque.   

A sua meta é equivocada.

O seu resultado?
É pobre.

Não interferem nas prioridades 
Que são o prazo e a produtividade.
Não interessa essa sua vontade
De aprender um bom uso do mote.

Você não está aqui para isso!

O que tem
Por compromisso
É terminar o seu dever.



sexta-feira, 25 de março de 2016

Soneto a um cavalheiro

Soneto a um cavalheiro
Por Tenente Russo

Roga para ter discernimento,
No trato a quem te deu só lealdade.
Segura a tua língua ao vil momento
Do ódio, que não tornes crueldade.

Não trama contra quem cresceu contigo,
Sopesando o duro golpe a um irmão.
Não deve receber qualquer abrigo
Um embuste disfarçado de lição.

Saibas ponderar algum tropeço,
Se é vero tal que chamas de apreço,
Se és de mim, além de tudo, um amigo.

Do contrário soarás qual um pelego,
Que debanda à suspeita de perigo, 
Abrigando-te just'ao colo do inimigo. 

Dito isso é só tua a decisão:
Ou amistoso, desarmado, aproxima-te, 
Ou te afasta e me dê logo sossego.



segunda-feira, 7 de março de 2016

Um haikai sobre o amor

Um haikai sobre o amor
Por Macaco Romântico

Eu já descrente
Lhe dei o braço
Feliz renasço



Haikai da mercadoria

Haikai da mercadoria
Por Macaco Consumidor

Tudo é caro
Tudo quebra
Eu me aborreço



Dois haikais da mãe natureza

Dois haikais da mãe natureza
Por Macaco Filho

Lhe dê bons tratos
Adubo e água
Ela o presenteia

Lhe dê desdém
Detrito e afronta
Ela o mata



domingo, 6 de março de 2016

Haikai do trem da Central

Haikai do trem da Central
Por Macaco Trabalhador

Honradas pessoas vêm e vão
Faltam tempo e conforto nos trilhos
Para casa, levam o sustento



sábado, 5 de março de 2016

Haikai da preguiça

Haikai da preguiça
Por Preguiça Dançante

Abri o olho
Passou o dia
Fechei de novo


Haikai da ciência

Haikai da ciência
Por Macaco Pesquisador

Apesar do desprezo
Apesar da ignorância
Por um elevado propósito


Haikai da manhã

Haikai da manhã
Por Macaco Desperto

Apartado do conforto
Pela vida impelido
Me anima a novidade




sexta-feira, 4 de março de 2016

Haikai do amigo da onça

Haikai do amigo da onça
Por Macaco Velho

Amizade declarada
O seu bem sempre em primeiro
Como crer na lealdade?


quinta-feira, 3 de março de 2016

Haikai do Bola

Haikai do Bola
Por Preguiça Dançante

Fingi calmaria
Comi a cortina
Virei furacão


Haikai da Bisteca

Haikai da Bisteca
Por Saru no inu

Pulei no sofá
Virei de barriga
Mamãe é minha



Haikai da beldade

Haikai da beldade
Por Saru yarō

Contemplei as curvas
Escalei os morros
Sou jovem de novo


Haikai da vida é uma festa

Haikai da vida é uma festa
Por Shiawasena saru

Nasci chorando
Gozei os dias
Desceu o pano

Quatro haikais do sonho

Quatro haikais do sonho
Por Nodokana Saru

Queria asas,
No mar gelado,
Em paz com o dia.

Queria frutas
E gelo e açucar,
Em paz com as tripas.

Queria cores,
Em panos e formas,
Em paz com o mundo.

Queria amá-la,
A toda hora,
Em paz com tudo.

Haikai da altercação

Haikai da altercação
Por Ikatteiru saru 

O falso tergiversa,
Ao rugido do nervoso.
O gracejo é o sibilo venenoso.


Órgãos

Órgãos
Por Macaco Pesaroso

O organismo em questão
Não deseja melhora.

Está muito bem
Com suas células parasitas,

Que voltaram-se
Ao menoscabo do sistema.

São rainhas
Que dançam e mandam,

Como arcanjos
De um propósito obscuro.

E, assim, vão levando
Os órgãos à derrocada.

Às vezes,
Por puro orgulho.

Em muitas outras,
Por questões econômicas,

Na preservação
Da seiva que sugam,
Com a desculpa

De que mantém vivo
O organismo.

Têm em suas mãos
Os tecidos,

Que vão tramando
Contra qualquer ideia de melhora

Dessa criança,
Que já nasceu doente

E ora está velha,
Degradada na esperança.

Não adianta
Lhe dar remédio,

Ou conselho.

Os bichos que consomem sua mente,
Já a tem por morta,
Em seu espírito,

Adiando a derradeira metástase,
Apenas para dela se alimentarem,
Enquanto vivem... 

   

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Dívidas

Dívidas
Por Macaco Independente

Se nasce devendo,
Aos pais,
Uma vida.

Na escola, se deve,
Ao mestre,
O estudo.

Creditam-se,
Os amigos,
Da sua acolhida.

O salário
E a comida,

Ao patrão
Que devemos.

À mulher,
O desejo,
O lar e o beijo;

Ao filho,
O sustento;
Ao irmão,
Uns favores;

Ao padre,
A bênção;
Ao cão,
Companhia;

À enfermeira,
O paletó;
E o velório
Ao coveiro.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

O número 3

O número 3
Por Macaco Russo

O número 3 é maluco!
Ele não sabe se relacionar com as pessoas.

Deveria ser uma espécie
De espírito santo,

Mas, resolveu desertar,
Por dúvidas em seus sonhos

E entorno.

Ele é demais!
Sensível demais...
(Isso é coisa de veado!)

Inflexível,
Inconstante,

Curioso,
Interessado,
Questionador,

Mas também duvidoso,
Ainda quando o digam imparcial.

Já nasceu velho.

Não tolera erro moral,
Nem lógico.

Implacável no julgamento

E não se divide...
Porque se parte em pedaços!

O número 3
É oito ou oitenta.

Merecia ser preso numa jaula,
Em razão de seus pensamentos.

Esforça-se para se manter íntegro.
Soa maciço e talvez maçante,
Mundano incrédulo e birrento,
Com os pés cimentados,
Embora quisesse ter alguma graça.

Logo ele, o caçula,
Que parecia tão bonzinho...

A quem a mulher dá a mão,
Segura,
Desde que tenha paciência,
Enquanto ele reza
Para ela não ir embora,
Pelas suas idiossincrasias.

Amigo leal dos amigos,
Extra cuidadoso dos familiares,
Dócil serviçal dos capatazes.

Mas, de repente,
Dana a louvar Satanás,
Empunhando o seu tridente!

Não se contenta com bronze
E suas dimensões
São uma grave questão
De tempo e espaço...

Competitivo,
Como um bicho,
Quando vulnerável,

Sem eira, nem beira,
Pode se tornar agressivo
E destruir tudo a seu redor!

Jamais!
Ele não serve;
Ele não pode!

Definitivamente,
O número 3 é problema...

Anote aí:
Temos que excluí-lo!

Só precisamos descobrir como.
Pois ele insiste
E não morre,
O desgraçado...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Bolchevique

Bolchevique
Por Macaco Russo

Comunista não pode tomar sorvete,
Nem abrigar-se no ar condicionado.

Comunista tem que sofrer!

Comunista não pode usar perfume,
Nem portar smartphone...

O comunista tem que feder!

Comunista não pode locomover-se
Em automóvel moderno;

Não pode divertir-se,
Ou dar risada,
À montanha russa;

Não merece comer
Comida grãfina,
Nem mesmo hamburguer,

Porque ele come criancinha!

O comunista tem que ser 
Uma espécie de São Francisco,
Ou algum tipo de mendigo...

Afinal, o comunista
É um asceta de sangue frio.
Não é um humano;
É um robô!

A ele é vedado
Querer para todos
Essas coisas exclusivas de uns poucos,
Pois, se não, o mundo acaba

E é melhor destruí-lo, apenas,
Para o conforto de quem pode ter.

Por isso tudo é que o comunista
Não devia nem nascer...




sábado, 30 de janeiro de 2016

Castelo de cartas

Castelo de cartas
(Ou a história do bebê de 500 anos)
Por Macaco Patriota

Os ladrões das casas
De Borgonha e Habsburgo,
Bragança-Saxe-
Coburgo e Gota,

Onde quem mandava
Não eram os Afonsos,
Joãos, Manuéis,
Pedros ou Filipes,

Mas de Henrys a James,
De Edwards a Victorias,
Através de arrogantes
Duques de Wellington,

Tiveram sua área
Maior de rapina
Adiantada na herança

Pelos filhos ingratos
Das treze colônias:

De Lincolns a Roosevelts;
De Nixons a Reagans.

E todos eles tinham,
Aqui nesta terra,

Seus associados
De extorsão e pátria,

Bilaterais, como a Louca
E os seus dois Pedrinhos,

Um Deodoro,
Com seus tantos padrinhos,

Mineiros, Paulistas
E um revoltoso Vargas,

Castelos Brancos,
Gouberys e Campos,
Figueiredos, Sarneys, 
Collors e Cardosos,

E um montão de outros

Dos tipos Cunhas, Caiados e Neves.

Pois, eis que,
Das greves,

Surgiria um homem do povo,
De nove dedos,

Suposto salvador
Dos trabalhadores urbanos,

Camponeses sem terra,
Índios e escravos,

Mas, que tinha seus segredos
Ao levantar campanhas,
Apesar do carisma evidente,

Provado com ações e palavras
De um alegado Robin Hood.

Sabia acalmar os ânimos
Dos gatunos da alta classe
(Se é que, nesse embalo,
Não se tornou um deles...)

Ao mesmo tempo, zeloso,
Em que não descuidava
Dos que nunca tiveram vez
Em suas miseráveis esperanças;

Tornando, com isso,
Fiés aliados
Os aguerridos pensantes
Da classe média.

Encontrou a poupança
De um plano de contingência
Para a continuidade e a ampliação
Da remuneração dos ricos,
Dessa vez, de portas arreganhadas,

Com a entrega das empresas estatais
A preço de banana,
Inflacionadas na surdina,
E a inviabilização dos serviços públicos
Por cortes de verba escrachantes,

Plano esse que visava, ainda,
Amenizar a dívida generalizada -

A qual foi criada
Para se tornar impagável -,
Sustentando-se a estabilidade econômica
Com o capital especulativo

Ansioso pelos juros ilusórios
Dos papéis públicos.

Velha tática de "chutar a escada"
Dos economistas "neo" liberais.

Ao preço da servidão,
Acertada no "Consenso" de Washington,
A moeda, então, se estabilizara,
Perante o sagrado dólar.

E, com esses falsos metais,
O metalúrgico
Resolveu espalhar a bonança
Também para as pessoas do povo,
Bem como a seus "companheiros",

Esquecendo-se pouco a pouco
Dos ladrões históricos
Que o aceitaram,

Ao aproximar-se, cada vez mais,
Do oriente vermelho

E de seus hermanos
Do continente,

Execrados,
Por seu perigo sistêmico,
Pelas elites dominantes.

Os corruptos clássicos,
Assim, se indignaram,

Passando a golpear o barbudo,
Por meio da mídia comerciante,
Com uma série de escândalos
Que ele ignorara,

Já que escândalos
Iguais a esses,
Nunca antes neste país,
Deram em nada.

Por que, agora,
Seria diferente?

Porque ele
Vinha de baixo
E da dor da miséria
Não esquecera?

Tratou de ajustar
O seu gabinete,
Pondo ali
A guerrilheira dura,

Que, ainda mais longe levando,
A política "dadivosa" do chefe,
Em breve se tornaria
A sua cabal sucessora.

Os colarinhos brancos de outrora
Já não toleravam
A petulância sem limites
Dos rapaces de agora.

Que história era aquela
De roubar para os pobres?!!!

Tinham que sabotá-los
Para reaver o lugar atávico,
Indo buscar, em Curitiba,
Um super-herói altaneiro,
Que faria, por eles, vingança,
Mesmo que nessa sanha levasse
Alguns pares seus no caminho,
Porque um Batman de Brasília
Não foi o bastante.

Não quer dizer
Que a presidenta
Não cedesse...

O que a Dilma tem a temer
Do temeroso vice-presidente,
No pacto sinistro
Em que sua legenda
Se lançara?

Mas, não era suficiente
Para os insaciáveis vetustos,

Que abiscoitavam,
Em seus Estados,
Inclusive do preço
Do transporte público,
Na forma de patrocínio,

Fazendo isso
Com tal virulência,
Que seria o estopim
Para uma revolta popular
Sem precedentes -

Uma revolta múltipla e confusa,
Também colocada na conta
Exclusiva da guerrilheira.

Em resposta coerente
Com a sua inflexibilidade,
Ela passou a fechar-se
Em uma defesa tirânica,

Arrochando
Indiscriminadamente
O revide,

Até mesmo
Contra os jovens revolucionários,

Que foram às ruas
Combater a injustiça,

Como ela fez um dia

E, por isso, deveria
Ter se juntado a eles.

Aproveitando o ensejo,
Os velhos crápulas,

Indisfarçáveis em seus novos vendilhões,
Financiados por mandantes estrangeiros,

Previam o caos;

Pediam impeachment,
Intervenções militares
E ditadura!

Rogavam à inflação,
No furor da crise,
Que voltasse com fúria.

Saudavam crimes ambientais,
Tramavam falências,
Suplicavam prisões,

Em franca torcida
Por goleada e penúria
Contra o Brasil...

Um espetáculo bizarro
De autofagia
Aplaudido de pé
Pela polícia e o governo
De São Paulo.

Tanto pediram,
Esses débeis mentais,
Com tanta fé e franqueza,

Que de tudo levaram,
Mui agradecidos,
Do que os biltres de alhures
Lhes podiam dar:

Crise,
Inflação,

Soberba,
Cinismo,

Descrédito,
Penúria,

Hipocrisia
E troça...

Que em nada afetavam
Suas economias pessoais,
Senão o cotidiano
Dos pobres brasileiros.

E assim uma nação acabou,
Sem nem mesmo ter começado.

Jogaram fora a água suja do banho
Com um bebê gigantesco no meio,

Inignorável.

E não o da índole corrupta,
Dita neófita

Pelo duvidoso
Ex-presidente;

Mas, o que poderia
Redimir esta pátria

Com o seu justo alicerce,
Purgado no lodo
Desse secular pesadelo.



quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Ponto de fuga

Ponto de fuga
Por Macaco Velho

Os sonhos, as ideias,
As certezas

Se liquefazem,

Assim como os músculos.

E todos doem,
Aos tantos anos,

Qual o cérebro,
Que arde,

Para se manter são.

Nem o abraço
Rebate
A ausência de sentido.

Mas, conforta

E acalma,

Enquanto o remédio
Traz o sono

Da noite,
Que antecede

Mais um dia, no qual
A impotência (!) -

Do sexo,
Da criação,

Do mar e da cidade,

Do trabalho -

Cobrará o seu preço,

Com angústia

E frustração.



sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Números

Números
Por Macaco Insignificante

Meu número é 00715160.

Da minha mãe, tive o alimento primeiro,
Um senso agudo de Justiça,
O pitoresco aspecto eslavo
E um pendor para as artes.

Do meu pai, tive o estímulo
A lutar, nadando, pela vida,
Pois quando eu me aproximava,
Com desconcertadas braçadas,
Ele ia se afastando.

Tive avôs tão fascinantes
Quanto as avós que ainda tenho.
Com um pesquei meu primeiro bagre;
Com outro aprendi desenho.

Vovó materna me ensinou a ler;
Vovó paterna a gostar de perfume.
Uma me dava misto quente;
A outra mingau de farinha láctea.

Com meu irmão mais velho aprendi piadas.

Meu irmão do meio ensinou-me a ciência
De montar e desmontar máquinas.

E, dos dois, por rotina, eu levava
Umas boas dumas porradas.

No futebol eu já dei umas pernadas,
Mas nesse me faltou o talento,

A paciência de correr tanto tempo
Pelo inútil e feliz acaso
Do tão desejado tento.

Enveredei pela bebida e o fumo,
Seguindo o exemplo dos varões da família.

Mas, no sexo, me versei sozinho,
Em alguma casa de facilidades,
Na qual eu entrei de fininho.

Tive algumas namoradas
E, com elas, dias turbulentos.

Até que sosseguei com a morena,

Que, acima de tudo,
É uma grande amiga.

E nós temos dois cachorros,
Que adotamos em um abrigo,
Os quais, hoje, nos regem os passos
Porque os tratamos como filhos.

Mas, pouco importam esses fatos,
Ou as minhas idiossincrasias...

Meu número é 00715160.

É certo que um dia vou bater as botas,
Nessa ultra-modernidade idolatrada,
Em que nenhuma desprezível formiga
É, por outra, insubstituível.



Patê de lata

Patê de lata
By Sick Monkey

Eu pondero comigo mesmo
Sobre a hostilidade das horas,
Dos pensamentos
E das pessoas.

Imagino a límpida alma da infância,
Incólume, feliz e livre
E, por ela, a lealdade
De quem a amasse.

Na volta à realidade,
A crueza dos fatos choca,
Com a avalanche de uma lama tóxica -

Essa lama que macula minha alma,
Por ter faltado no cuidado com ela.

O verde da mata
Ainda me agrada;
Como a água cristalina
Da enseada

Marcada para a morte
Nas mãos desalmadas
Dos homens de sorte
Em seus negócios.

Eu prefiro o ócio!

Da mirada no vento,
Atiçando as copas
E balançando as vagas
Que devem chegar logo

Aqui, para o divertimento
Gelado, veloz e adrenalizante
Da criança que persiste
Ante o homem rabugento.

Até quando e por quanto,
Contudo,
Haverá essa alegria?

Se nem mais as frutas
Têm um sabor seguro,

Porque recobertas
Do veneno aspergido
Pelos homens de negócios,

Que, no seu lucro,
Não querem sócio?

Desejam escravos,

Os quais se batem
Por uma chance
De segurar, um dia,
Acima da cabeça e do peito,
O chicote.

Eu pondero comigo mesmo:
De que adianta a alvorada
Para isso?

De que adianta o alimento?

E de onde virá o sorriso
Numa vida de gente barata?