Pescaria no Mar Mediterrâneo
(Em respeitosa memória de Eduardo de Jesus Ferreira)
By Sad Monkey
Estava outro dia a questionar-me
Se, pelos frutos do mar dos quais me alimento,
Seria eu um homem justo,
Uma vez que também esses seres
Devem ter, em algum grau, sentimentos
Mas, o que veio na rede não foi um peixe...
Foi um menino morto,
Girando, lentamente, seus bracinhos na areia,
Ao talante das marés e das tormentas,
Com os lábios roxos e o corpo lívido.
Parecia vestido como um bonequinho.
Devia ser o orgulho dos pais,
Que não sei se, ali, também morreram,
Ainda que estejam vivos.
O que veio na rede é o resultado
De um xadrez nefasto dos senhores do mundo,
Pelo petróleo, que outros tantos enterra,
Para mover as máquinas
De fabricar armamentos,
Ativados, com cálculo,
A cada novo movimento
Do sistema econômico,
Na geopolítica estratégica.
O menino, que veio na rede, tem primos
Na América Latina,
Mais ao oriente da Ásia,
Na África,
De outras raças e cores,
Mas da mesma “casta”:
A que nasceu para ser moída
Pelos interesses dos que mandam.
O que veio na rede é um disparate -
Consequência dos negócios
Disfarçados de guerra.
E, se me convocassem,
Desta, eu participaria,
Para trucidar os que a criaram,
Tanto quanto os que lá combatem,
Explodindo crânio a crânio,
Com tiros de fuzil -
Com tiros de fuzil -
Silenciosos, certeiros,
Convictamente contra todos -
E uma gargalhada,
Encomendada diretamente do inferno,
Porque incorporada pelo próprio Satanás.
Do berço da humanidade,
O que veio na rede,
Com a esperança de chegar
Ao começo do ocidente,
É muito triste.
O que veio na rede,
Das mãos de crápulas,
Candidatos e candidatas a presidente,
É o verdadeiro terror.
O que veio na rede,
Inocente e alheio
À transparência do mal,
Coitadinho...
ERA UMA CRIANÇA!
2 comentários:
Sinistro, russomano! Muito bom.
Valeu, Ulisses. Temos que prosseguir combatendo esses absurdos. O mundo vai muito mal, cara...
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