domingo, 1 de março de 2015

Andaraí: 450 anos de saudade

Andaraí: 450 anos de saudade
(Da Calábria ao Rio de Janeiro)

Da Scimmia nostalgico

Eu vi mangas espada,
Com um sabor de quase mel,
Brotarem em contínuos cachos
Como um dossel de fartura.

E o homem que as cultivava,
Sabendo como é dura a vida,
Aos que da rua lhe pediam, dava,
O quanto bastasse para a fome sua.

De sincera gratidão eram os sorrisos,
Com terna amizade, por "seu" Salvador,
E aquele Senhor já mais nada queria,
Além dessa paz, por que tanto lutou.

Eu passei os meus dias a subir em árvores,
Para comer frutas várias ao embalo do vento.
E o quanto valia tal singelo momento, 
Depois de perdê-lo é que eu saberia.

Com meus irmãos, primos e amigos,
De ovos podres e carambolas,
Forjava guerras.

Eu corria atrás das galinhas,
Mas, no que podia,
Também ajudava:

A lavrar canteiros,
Subir galinheiros,
Podar as copas
Cuidar das mudas...

E assim conhecia

O que faz de um homem
Um homem verdadeiro.

Sob jura de segredo,
Testemunhei como se faz aliche,
E só posso dizer que é preciso
Um tijolo de pedra...

Eu vi o sacrifício de porcos
Que se tornavam tantas delícias.
Mas, naquilo, eu não via malícia,
Já que, da carne, nada sobrava.

Construi meu próprio rolimã
E rampas, para testar a coragem.
Brinquei até ficar imundo,
Até a noite, desde manhã.

Eu vi tanta coisa fantástica!
Como mesas de natal em que tudo abundava,
Fartando a família,
Que, de chegar, não parava:
O natal e a família que nunca acabava!

E é por isso, talvez,
Que, hoje em dia,
Pouca coisa me balança,
Me fascina
Ou aguça a alma...

A não ser um ato de amor legítimo;
Uma generosa bondade desinteressada;
A expressão autêntica da natureza;
Uma criança feliz da vida,
Correndo livre em um quintal...

Coisas, infelizmente, muito raras...


Nenhum comentário: