sábado, 3 de novembro de 2012

O Aniversário do Supermercado

O Aniversário do Supermercado
Por Encarregado Russo

A matemática falha,
Assimilada com dificuldade
No aprendizado intermitente -
Afinal interrompido,
Pela dificuldade financeira -,
A fazia passar
Por constrangimentos como aquele.


Em seus olhos via-se esperança.
Mas, a impaciência, que rugia,
Nos olhos da moça do caixa,
Embotava, com vergonha,
A conta cuidadosa,
Feita de artigo em artigo.


Vislumbrava, em soslaios breves,
Os outros carros da fila,
Abarrotados de tanta maravilha,
Que a alegria mensal faria
Das pessoas de boa família e classe média.


Aquela gente, sim, podia!

Com a renda, segura, auferida
Nas repartições estatais, nas secretarias,
Nas empresas comerciais,
Nas faculdades,
Nas mais-valias,


O que ela não conseguia,
Talvez, por ter largado os estudos,
Para pegar no pesado, infecundo,
De um peso pelo qual se culpava,
Das faxinas que brilhavam,
Nas suas mãos calejadas.


E lembrava do filho,
Enquanto passava as compras.


Não queria, para ele,
Somente aquilo:


Um desinfetante de pinho,
Uma garrafa de água sanitária
E um sabão em barra.


Um saco de macarrão,
Do mais barato, parafuso,
Um pacote de feijão,
Uma lata de polpa de tomate,
Duas cebolas, um alface.


Milho?
Bem que eu queria...
E uma sardinha em lata.


Fecharia a conta humilde,
Do dinheiro, contado, curto,
Com a folga de alguns centavos,
Levando a bandejinha de carne:


Um acém de aspecto azulado,
Mal nutrido e mal pesado,
Com hesitação selecionado,
Entre tantas outras coisas
Que ficaram no carrinho.


_ E o resto? -
Indagaria a caixa.


_ Não vai dar, eu acho, minha filha...

Pondo alguma dignidade na dúvida,
Voltava o olhar baixo
Para o encarte especial
Da revista sobre concursos públicos.


Opa!

Esse pode!
Ele tem o ensino médio!  


O pai foi-se embora,
Com o menino ainda pequeno.
E qual camisa daria o emprego
De atendente de telemarketing
Ou motoqueiro?


Um menino tão travesso.
Um menino tão inventivo.
Um menino tão bonito.
E nós dois sozinhos
Naquele barraco.


Sozinhos...

_ E a carne, minha senhora?

De súbito, ousou um sonho.

Naquela revista estava o futuro!

E o acém foi parar no cesto
Dos produtos abandonados
Pelos que deles queriam ser donos,
Até a impiedosa barreira
Do princípio da escassez.


_ Troca pela revista. -
Concluía a senhora,


Deixando a carne que vai ser moída,
Redistribuída,
Ou jogada no lixo,
Para ver a sua preservada.


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